Da obra gigantesca ao pequeno milagre da vida (A Saga do Caminho 15)
Boadilla del Camino – Carrión de los Condes 27,76 Km
No albergue de Boadilla se come um bom jantar e também um bom café-da-manhã. Barriguinha cheia, já tá na hora de fazer os curativos nos dedinhos e sair. Bem, chegou o momento de contar minha saga matutina. Primeiro passar uma pomada anti-inflamatória nos joelhos. Depois, silicone entre todos os dedos, qualquer roçadura nos pés provoca bolhas. Se ainda existia algum vestígio de bolha ou de provável nascimento passar betadine, que é uma espécie de mercúrio cromo. Então, envolver cada dedinho com uma faixa de gaza e colocar esparadrapo. Parece horrível, pois não era, depois destes cuidados podia andar horas e horas, e nada mais de maligno me ocorreu! E claro, não esquecer, primeiro colocar uma meia fina sem costuras, e por cima uma meia grossa esportiva. Pezinhos felizes, já era hora de seguir caminhando, e encontrar uma maravilha da engenharia hidráulica: o Canal de Castilla
Uma obra que se inicou no século XVIII e se estendeu até o XIX. A principio, queriam unir através de um canal – Segóvia e Santander, não alcançaram este objetivo, mas conseguiram unir 207 Km do território espanhol. A primeira função era facilitar o transporte de grãos e mercadorias, e a segunda irrigar as terras do centro do território.
Caminha-se vários quilômetros margeando o canal, e é uma sensação muito agradável. Na foto se vê o Antoninho junto ao Canal de Castilla, e vejam que em pleno verão europeu, pela manhã fazia frio, assim já sabem, na bagagem algo de abrigo!
Encontramos uma eclusa do canal na entrada de Frómista, uma cidade que herda seu nome do termo romano frumentum (trigo), mas se desconhece sua origem. Esta cidade possui um dos mais bonitos exemplares de arte românico espanhol – a Igreja de San Martín, por favor não deixe de entrar, cobram uma pequena entrada – 1€, mas vale a visita. Fique de olho nas colunas que na parte de cima – capitel – possuem diferentes alto relevos. Cada coluna é diferente da otra!
Depois de quase 15 Km, outra parada em Villalcázar de Sirga, para visitar a impressionante Igreja de Santa María la Blanca. Esta construção dos séculos XIII e XIV se encaixa entre o românico e o gótico. Ademais de sua beleza guarda a imagem da Virgem Blanca que curava os peregrinos doentes que não conseguiam sua cura em Santiago de Compostela. No caminho de volta, estes peregrinos paravam nesta igreja e oravam para a virgem a quem se atribuiu diversos milagres.
Mais seis quilômetros e chegamos ao destino do dia: Carrión de los Condes. A cidade tem diversos albergues, mas eu indicaria o Espíritu Santo, das Irmãs da Caridade, freiras que fazem tudo que podem, e mais um pouco para os peregrinos. Nesta foto eu estou junto a uma imagem de Nossa Senhora no pátio deste albergue.
Aqui eu tropecei com uma irmã, e neste tropeço lhe caiu uma medalhinha, a senhora me olhou, sorriu e disse: “Esta medalha é tua!” Ui, parece bobo! Nada disso! Quando se vive um tempo para caminhar, comer e dormir, volta-se a estar aberto as pequenas emoções da vida. Muitas coisas voltam a fazer sentido …
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Imagens: turomaquia_2006