Guias de Viagem e Arte

 
 
set 20 2006

Eu necessito … (A Saga do Caminho 5)

Quinto dia! Saímos tarde, porque nos negamos a acordar de madrugada em nossas férias. E isso porque acordávamos entre 06:30 e 07:00. Neste horário, a maioria dos peregrinos já está saindo ou já havia caminhado cerca de 4 ou 5 quilômetros! Nós levávamos nosso devido tempo, e depois de despertar, tardávamos cerca de 1:15 para começar a caminhar. O corpo não aceita, ao menos o nosso, saídas bruscas.

DICA: No caminho você necessitará um moleton porque pela manhã faz frio, mesmo em pleno mês de verão.

Caminho de Santiago

O 5º. dia reserva uma surpresa incrível, o povoado medieval de CIRAUQUI. Ao se aproximar você vê o povoado imerso em suas muralhas. Atravessa o arco da entrada, e seguindo as setas amarelas do Caminho de Santiago encontra uma padaria que vende um pão de passas delicioso, e se alimentar é a desculpa perfeita para ficar uns minutinhos a mais dentro das muralhas.
Caminho de Santiago Caminho de Santiago

Mas logo na saída, outro presente do caminho, você terá a honra de atravessar os restos de uma antiga calçada romana que ligava Bordeaux (França) a Astorga (Espanha). Imaginem, pisar as mesmas pedras que os romanos colocaram a séculos e séculos. A história só faz sentido quando a sentimos e nos colocamos nos lugar dos demais. Os romanos não empilhavam simplesmente as pedras, e sim inventaram um sistema para drenar a água e permitir uma maior durabilidade dos caminhos. A coisa era tão boa, que os reis navarros na idade média utilizaram este caminho para construir sua estrada.

DICA: O tramo que se atravessa da calçada romana está em uma descida, e são restos, assim cuidado e vá com calma. Minha descida audaciosa e meio rápida me custou problemas algumas horas depois!

Depois de deixar para tras milénios de história, chegamos a outra cidade medieval – século XIII – Lorca. Em Lorca encontramos alguns amigos, e uma anja, uma enfermeira que me ensinou por fim a cuidar de minhas bolhas. Amigos míos, a primeira vez que você tem que curar suas bolhas e não tem a mínima idéia, é algo bizarro!

Primeiros indícios do que ia me custar a descida audaz, meu joelho começa a doer. Escutando os conselhos dos peregrinos, na praça de Lorca junto a fonte, coloco meu joelho na água fria. Se alguém me contasse que eu um dia faria isso em plena praça pública, eu não acreditaria. Por isso, o melhor é realmente seguir os antigos ditados e não cuspir prá cima … (hahahahahaha!!!)
Caminho de Santiago
Caminho de Santiago

Desde Lorca faltava pouco para alcançar o destino do dia, mas faltando 4 Km para Estella meu joelho simplesmente “saiu de jogo”, e levamos 3 horas para percorrer estes míseros quatro quilômetros finais! Cheguei destroçada, e os dois albergues estavam lotados, assim sem poder dar mais nenhum passo, tivemos que utilizar o Plano B – e fomos a uma pensão.

Este foi um dos dias mais duros do caminho para mim.Senti medo de não poder mais proseguir. Senti ódio pela fragilidade do meu corpo. Senti muitíssima dor, quase insuportável. Senti que minhas energias se esgotavam … Mas por sorte havia realizado um Pacto de Autenticidade com Antonio Carlos. Por este pacto, não podíamos pegar ônibus ou qualquer outro meio de transporte; não podíamos pagar para que levassem nossas mochilas (existe este tipo de serviço no caminho) e devíamos chegar por nossos próprios pés a Santiago.

É incrível realizar o Caminho de Santiago sozinho, mas eu tenho plena consciência que sem Antonio eu teria abandonado em Estella!!!Como é bom poder dizer, que EU NECESSITO DE OUTRA PESSOA! UFA, EU NÃO ME BASTO!!! (hahahahahaha)
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Imagens: turomaquia_2006