O primeiro grande desafio ! (A Saga do Caminho 10)
De repente você se desperta e percebe que cem pessoas já saíram do enorme salão aonde todos dormiam e que você sequer percebeu! É meio surreal! Mas nunca dormi tão bem em toda a minha vida! E efetivamente, quando acordamos já eramos poucos no albergue. Mas não nos incomodamos, neste dia necessitávamos todas as nossas forças, teríamos pela frente nosso primeiro grande desafio: 36,97 Km.
Depois de passar pelo povoado de Grañon, em poucos quilômetros se entra em uma nova comunidade autônoma, a enorme Castilla-León. Esta parte do caminho é mais plana, muitos peregrinos dizem que é meio chata e monótona, mas nós adoramos! Talvez pelo fato de morar em uma ilha, e de ter esta inusitada sensação dos olhos se perdendo no largo horizonte, sei lá … As pessoas são super amáveis e os pequenos povoados são muito bonitos, e ademais a comida é bem mais barata que em Navarra e La Rioja. E não é só isso, a taxa dos albergues também é bem menor. Poucos albergues até chegar em Galícia não cobram taxa de permanência, e quando se chega em Galícia todos os albergues públicos (da Xunta de Galícia) são grátis, mas a partir do próximo ano estes albergues também passaram a cobrar uma pequena taxa.
De Santo Domingo de la Calzada até Belorado, aonde a maioria dos peregrinos para, são cerca de 22 Km, mas nós queríamos seguir … acontece que eu, Patricinha, necessitei fazer um stop em Belorado porque tinha que curar minhas novas bolhas … E acabamos saindo desta cidade às quatro da tarde! E ainda faltavam muitosssssssssss quilômetros.
O legal é que neste trecho haviam vários povoados e construções de cair o queixo, como a Ermita Virgen de la Peña, escavada na rocha e outras ruínas históricas do século VI.
Em alguns momentos nós construíamos estórias para nos divertirmos um pouco e esquecer dos quilômetros … Neste dia, criamos a figura do adversário, por que adversário? Porque como sempre chegávamos tarde nos albergues, e muitas vezes não havia lugar, todos que nos passavam eram nossos adversários “de cama”, não que nos importasse muito, mas era divertido. Neste dia em particular foi genial, o Antonio percebendo que minha moral estava meio baixa depois de Belorado, começou a dizer: Tá vendo aquele sujeito (estava atrás de nós, e não se via bem, quer dizer, estava longe) é nosso adversário e não podemos deixar que nos ultrapasse! E com esta estória nos sentíamos como em um jogo, e apesar das três novas bolhas que explodiram em meus pés, eu consegui chegar!
Quero deixar bem claro que não tínhamos o espírito de alguns viajantes de chegar ao albergue (o que é horrível!), e sim nos divertíamos com este tipo de jogos, porque senhores e senhoras não é fácil passar quase 30 dias caminhando … e com outra pessoa, que tem de aguentar tuas dores, teus desânimos, teus enjôos, por isso hay que tener alegría y un poco de cachondeo!!!!!!!!!!!!!!
Pois, chegamos já ao final do dia em Montes de Oca, e claro que dormimos no chão. E adivinhem?! Conhecemos nosso adversário (hehehehehe) e jantamos com ele, um italiano que como nós caminhava pela manhã e tarde ( a maioria dos peregrinos sai super cedo e caminha somente pela manhã). E ele sem saber me ajudou a chegar a meu destino deste dia. É impressionante como nossas ações afetam a outras pessoas sem que nem sequer saibamos de nossa bondade ou maldade …
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Imagens: turomaquia_2006