Guias de Viagem e Arte

 
 
out 12 2006

O importante não é chegar … é ir! (A Saga do Caminho 9)

A primeira cidade do dia: Nájera, que nos séculos X e XI foi capital de La Rioja, após a destruição de Pamplona pelos mulçumanos. A entrada para a cidade não é nada bonita, mas o contraste ao atravesar a ponte que dá acesso a sua parte histórica é tremendo! Nesta antiga capital está um dos principais tesouros românico-gótico da España.
Caminho de Santiago

Dizem que o rei D. García Sánchez III caçava, quando sua presa entrou numa caverna. O rei foi atrás da presa, e descobri uma imagen de uma virgem, e ao seu lado um vaso com açucenas, um sino e uma vela. Depois de alguns anos, este rei conseguiu expulsar destas terras os muçulmanos, e para homenagear à virgem que segundo ele lhe acompanhou nas batallas, mandou construir o Monasterio de Santa María de la Real. E também instituiu uma das ordens mais antigas da España: Orden Militar de los caballeros de la Terraza o de la Jarra.
Caminho de Santiago

O monasterio é impressionante e cobra $ 2,00€ pela entrada. A igreja foi construída no lugar aonde estava a caverna da virgem.Na saída de Nájera passamos por um lindo bosque e alcançamos Azofra, aonde é muito mais barato comer do que em Nájera, e ademais melhor do que esperar a Cirueña, uma cidade com poucos serviços e atendimento “sofrível”. Em ambas se pode conseguir água nas fontes do caminho.

O mais lindo do dia estava por surgir … realmente Santo Domingo de la Calzada é um lugar mágico! Em que outro lugar se vê na catedral um galo e uma galinha? Sim senhores, VIVOS!!! E por quê isso?
Caminho de Santiago
Conta a história que um casal de peregrinos alemães chegou à cidade com seu filho de 18 anos. Eles se hospedaram na pousada de Santo Domingo, e uma empregada da pousada se apaixonou pelo jovem Hugonell. O jovem não quis saber da moça, e esta de vingança colocou um vaso de prata na sua mala, e denunciou seu roubo.

Nesta época o crime de furto era condenado a pena de morte, e o jovem foi condenado à forca. Os pais resignados seguiram sua peregrinação. Nesta época, além de ir caminhando, não havia outra maneira de voltar, que não fosse caminhando, asim em seu retorno os pais pararam em Santo Domingo para ver o corpo de seu filho. Para sua surpresa, o jovem seguia vivo. Santo Domingo lhe sujeitava pelos pés. Os pais rapidamente foram ao Corregedor contar o sucedido, o Corregedor sem acreditar em nada que lhe diziam, proferiu as seguintes palabras: “Seu filho segue tão vivo como a galinha e o galo que vou começar a comer”. Neste momento, o galo e a galinha começaram a cantar e saíram do prato. E desde então se diz na cidade: SANTO DOMINGO DE LA CALZADA / DONDE CANTO LA GALLINA DESPUÉS DE ASADA.

Desde então para lembrar o milagre, um casal de galo e galinha são mantidos dentro da Catedral. (Foto acima, na verdade foto horrível!!!). O casal é trocado a cada mês, mas permanecem pelo período de 1 ano dentro da Cofradía de Santo Domingo. E também um pedaço da forca do jovem Hugonell pode ser observado dentro da Catedral. Fora a linda lenda, milagre, como você queira chamá-lo, esta cidade é muito acolhedora. O peregrino é bem recebido e se respira o caminho por todas as suas ruas.

Para variar chegamos tarde, mas nos receberam na Cofradía de Santo Domingo de la Calzada, e dormimos em colchões no chão. Na verdade, sabe que é melhor dormir em colchões no chão, do que nos beliches ?! Se você dorme embaixo e a pessoa se move na parte de cima, você desperta. Se dorme em cima, qualquer coisa necessita descer e muitas vezes estes beliches não têm aquela escadinha para ajudar. Dormir no chão significa espaço, e não ter ninguém em cima de você!!! Isto me lembra uma frase española: “Solo no se consuela, quien no quiere” (hahahahahaha).
Caminho de Santiago

Era festa em Santo Domingo, estavam distribuindo uns chorizos incríveis e vinho. E a parte mais triste do dia, era a despedida de uns amigos. Muita gente que vive na península faz o caminho por partes, ou seja, neste ano, de Roncesvalles a Santo Domingo; no outro até León, e assim por diante até chegar em Santiago. O fascinante do caminho é esta flexibilidade, porque como dizia Chaplin: “O importante não é chegar, é ir”. Nesta viagem, entendi como nunca estas palavras…

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Imagens: turomaquia_2006