Diversão e Arte – Sorolla, laranjas e dois continentes
Diversão e arte?
Para qualquer parte?
Diversão, balé?
Como a vida quer?
Desejo, necessidade, vontade?
Necessidade, desejo, eh!?
Necessidade, vontade, eh!?
Necessidade…
A Arte é uma necessidade, como já diziam os poetas titânicos em 1987. Todo mundo precisa de arte. Mas para se divertir à beça com ela é necessário abrir a alma. Bobeiras filosóficas vazias? Nada disso. Se você entrar numa galeria já pensando que é uma perda de tempo, a conexão não rola. Como não rola beijo na boca no barzinho quando você se sente feio ou está de mal com o mundo.
Vamos começar pegando leve. Com um movimento que o pessoal do nosso século adora, o impressionismo. Mas nem sempre foi assim. Os franceses riam e se burlavam dos artistas que pintavam paisagens com cores que algumas vezes não pareciam corresponder à realidade.
O primeiro “ismo” vai inaugurar uma era enlouquecida na arte. Todos se influenciavam. Joaquín Sorolla, um pintor valenciano de estilo bem acadêmico, viajou a Paris e esta visita mudou radicalmente seus quadros. Ele é conhecido como o impressionista espanhol.
Aquela viagem tirou o filtro de seus olhos e ele pode retratar seu Mediterrâneo como ninguém mais. Se você respirar fundo diante dos seus quadros vai sentir o cheiro do mar.
Quer fazer a prova? Coloque na tua agenda visitar a Casa-Museu Sorolla em Madri. Fica bem pertinho do Estádio Bernabéu. A casa é linda, aqui ele viveu com sua família e trabalhou até que sofreu uma paralisia do lado esquerdo. O que lhe levou a uma profunda depressão e à morte.
Ok, não está pensando em vir para a Europa. No problem. Se você estiver do “outro lado do charco” lá em New York, pode estar frente a frente com uma grande obra do artista. Grande não só porque é uma obra-prima. Mas também pelo formato. Na verdade uma série de 14 painéis intitulada “Visões da Espanha”, onde alguns dos quadros medem 3,51 metros de altura por 13,92 metros de comprimento! O legal que a visita é adequada para todos os orçamentos porque é gratuita. É só dar um pulo na “The Hispanic Society of America”.
Não faz cara feia, já entendi o teu lance não é museu. E algo mais carnal, sensorial. Se bem que a arte tem tudo a ver com estes adjetivos, você também poderá ter um encontro com Sorolla à tua maneira. Viajando para a Comunidade Valenciana, e conferindo “in locu” as paisagens que aparecem reiteradamente nas obras do pintor. Além de muito mar, durante a viagem passará por campos e mais campos de laranja. A região é famosa pela sua produção. Uma laranja quase sem semente, grande e saborosa.
Para perceber a importância da laranja na cultura valenciana dê um pulo no Mercado Municipal de Valencia. De estilo modernista, o mesmo pelo qual é conhecido o gênio catalão, Gaudí. Ao entrar fique ligado na decoração em cerâmica, as laranjas estão por todas as partes. O lugar só abre de manhã, vale a pena visitá-lo com fome e aproveitar para provar as tapas e sanduíches do chef estrelado, Ricard Camarena. O “Central Bar” busca adaptar à alta cozinha a um público mais amplo.
Na saída não deixe de visitar a Lonja da Seda. Fica quase na frente do mercado. Está listada como Patrimônio Mundial da Humanidade. O edifício foi construído entre 1482 e 1498 como um lugar para a realização de transações comerciais e bancárias.
Certamente Sorolla cruzou estas mesmas ruas lá no comecinho do século 20. Hoje para “vê-lo” em sua cidade natal, dê uma chance para um museu e passeie ao menos pela Sala Sorolla (Museu de Bellas Artes), que conta com 42 obras do artista.
Depois de tanto “jaleo”, para se refrescar vá de Valenciano. Uma sobremesa digestiva e deliciosa onde a laranja é a rainha. Antes da viagem, e para ir entrando no clima, prepara uma “dose” para cada um de seus amigos.
Numa taça de vinho sirva suco de laranja (natural, please!), sobre o suco coloque sorvete de baunilha, e sobre o sorvete um pouco de licor, Contreau ou Grand Marnier. Pronto! Eu também faço colocando no suco de laranja um pouco de rum branco ao invés do licor, e sobre o sorvete um pouco de canela. Um Valenciano a lo Turomaquia.
Com este samba do criolo doido esquentamos os motores para fazer valer a máxima titânica: “A gente não quer só comida. A gente quer comida. Diversão e arte”. Misturando tudo no nosso liquidificador e dando muito mais sabor à vida.