Parador de Tejeda: o primeiro parador ninguém esquece
Las Palmas de Gran Canaria. Sábado, 10 de outubro. Aproximadamente 27 graus. Pegamos o carro, nosso destino: Cruz de Tejeda. 40 Km separam a capital da ilha do nosso hotel, mas não são quaisquer quarenta quilômetros. O começo em autopista, depois uma sucessão de curvas e subidas. É sair do nível do mar e subir a 1.580 metros de altura. Primeira consequência, o céu já não é azul de brigadeiro, e há muita neblina. E consequência da consequência, a temperatura se reduz drasticamente.
O edifício do parador se confunde com a paisagem …
O vestuário escolhido já não parece o mais apropriado. Faz frio. Mas nada disso diminui a beleza do caminho. Avistamos a Cruz que marca o centro da ilha, e atrás dela o edifício de 1937 construído para ser um albergue, onde atualmente se encontra o Parador Nacional de Gran Canaria. Não estamos diante de uma antiga e importante construção histórica, porque neste caso o local foi escolhido pela importância ambiental e pela paisagem natural. Mais tarde desde nossa habitação, poderemos compreender totalmente este conceito.
Na recepção, informam que nossa habitação está quase pronta (são apenas 43 quartos). Decidimos esperar na cafeteria, necessitamos nos esquentar um pouco. Descobrimos que o parador está na “Ruta de Tapas” celebrada na região. Assim, manda ver nas tapas do Parador. Eu vou de bolinho de chouriço de Teror (um chouriço especial de uma cidade da ilha) com pó de milho tostado, que se faz acompanhar por uma batata doce em formato chips. O Tom de polvo gratinado sobre purê de batata doce ao molho verde. M-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o-s!
Toda a louça, guardanapos, etc, tem a marca do parador. A senhora que atende é de uma educação e de um trato daqueles que te relaxam. Nos avisam na cafeteria que nossa habitação já está pronta. Estamos no quarto 210. Havia pedido uma cama de casal na reserva. Todo o hotel cheira a calêndula.
O quarto é bem grande. Adequado ao local onde se encontra. Tudo perfeitamente arrumado. Mas o melhor ainda estava por vir. Vamos em direção às cortinas, e damos de cara com uma varanda enorme com uma mesa e cadeiras tipo espreguiçadeira de madeira. O cheiro do hotel se confunde com o daquelas árvores e montanhas que tenho à minha frente. E não é só isso, a neblina vai levantando, e aparece uma das vistas mais lindas que já desfrutei. Montanhas, os pontos mais altos de Gran Canaria: Roque Nublo, Roque Bentayga, o Frade em um canto, e no outro, o vulcão que é o ponto mais alto da Espanha, o Teide, que está na ilha em frente, mas que se deixa ver daquela varanda. Me sentia tão feliz, algo que é difícil racionalizar e colocar em palavras. Uma tranquilidade, aquela sensação de dormência no corpo por puro relaxamento. Quase nem sentia minhas pernas. Na cara aquele sorriso idiota que aparece nestes momentos que um não espera, mas sente que o mundo parou e que tudo se resume aquele instante.
Realmente, depois da experiência da varanda, já não posso afirmar que este relato seja imparcial. A felicidade demanda escolhas. Eu decidi me deixar levar …
Sentindo muito, saímos em direção ao Roque Bentayga e a Tejeda. Mas retornamos a tempo de ver o por do sol na nossa sacada tomando uma Asti que tinha levado de casa. Derrubei umas lágrimas diante daquele espetáculo que eu assisti no mais puro estilo V.I.P.
Depois de um banho delicioso naquele banheiro de mármore provando os produtos do hotel, descemos ao restaurante para outro momentaço gastronômico.
Em um salão de jantar com o pé direito enorme com muita madeira e telas pintadas por artistas canários, pedimos: salada de temporada com tiras de (jamón) ibérico, frutos secos, queijo fresco e salsa de iogurte e mel, e de segundo: “timbal de bacalao desmigado confitado con aceite de ibéricos”. De entrada veio uma geleia de tomate com queijo cremoso que estava dos deuses, aliás a única comida que fotografamos (sorry!), os dois pratos seguintes eram tão bonitos e nos deixaram com tanta água na boca que esquecemos! De sobremesa, uma salada de frutas com sorbet. Resumo da ópera: orgasmo gustativo.
E a noite? É ótimo dormir em uma cama enorme com aquela temperatura de serra, e o melhor ainda despertar, e dar de cara com o dia nascendo da tua varanda. Era possível sem nenhum custo adicional tomar o café ali mesmo, mas queríamos ver como era o buffet e descemos. O preço não é o dos mais baratos, 15€, mas é uma refeição. Mesa só de pães. Outra com omeletes, tortilla espanhola, bacon, e outros pratos quentes. A mais especial: ibéricos, entre eles o querido jamón. Outra com queijos, marmeladas, sucos naturais, e por fim, a mesa dos doces. Estivemos uma hora naquele salão de casa de montanha.
No check-out mostrei meu cartão de amigos dos paradores, e a recepcionista disse que teria direito a um drink de boas vindas, mas como não tinha utilizado nos convidou a um drink de despedida. Detalhes e gentilezas como esta fazem toda a diferença.
Algumas pessoas me haviam dito que os paradores já não eram mais os mesmos, patati, patata … são vários pelo território espanhol. Sempre em lugares únicos por sua história ou por sua beleza natural. Assim, já é meio caminho para uma estadia que saia do normal. Minha primeira vez, foi um 10 com matrícula de honra! O problema é que agora já estou louca para “testar” outros pra vocês!
Cruz de tejeda, 16 graus. Descendo para Las Palmas, e a temperatura voltando rapidamente aos vinte e sete graus!
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fotos: turomaquia_2009