Guia de leitura do livro “Isso é arte?”
Esse post pretende ser um guia para a leitura do livro do Will Gompertz – “Isso é arte”. Imagino que para baratear costes e torná-lo acessível a um maior número de pessoas, o livro não abriga as imagens de todas as obras citadas.
A ideia é colocar as obras citadas a cada capítulo e também dar pistas para ampliar um pouco as discussões sobre cada artista, movimento ou escola.
Mas queria que esse post fosse colaborativo. Sei que o pessoal já não comenta muito nos sites, mas desejar é grátis, né ? Assim se você tiver links para materiais ou livros, por favor, coloque sua contribuição nos comentários!
Índice
Indice do Guia de Leitura do Livro Isso é arte
– Capítulo 1 – Fonte, 1917
– Capítulo 2 – Pré-impressionismo: A confrontação da realidade, 1820 – 1870
– Capítulo 3 – Impressionismo: Pintores da vida moderna, 1870-90
– Capítulo 4 – Pós-impressionismo: Ramificação, 1880 – 1906
– Capítulo 5 – Cézanne, o pai de todos (1839 – 1906)
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Capítulo 1 – Fonte, 1917
Will Gompertz começa “Isso é arte?” com a obra que colocou em xeque, o conceito de arte. Ou que libertinamente jogando com as palavras foi o germe para um tipo de arte que até hoje é bastante incompreendida e vilipendiada – a arte conceitual.
A fonte original e o fotógrafo famoso
Da “fonte” original restou apenas a fotografia do renomado Alfred Stieglitz. Essa fotografia e o número da revista “The Blind Man” totalmente dedicado à obra, foram tão importantes para que essa peça implodisse o mundo da arte quanto a peça em si. Porque deram à fonte, nome que foi dado por um crítico e não pelo artista, validade e peso.
O cenário detrás do urinol é a obra “The Warriors” de Marsden Hartley.
A fonte foi realmente uma ideia de Duchamp?
Se “A Fonte” já não fosse o bastante polêmica. Lembrando que a ideia original é de 1917, no ano passado surgiram novas pesquisas e rumores que alegam que na verdade teria sido obra de uma mulher: Elsa Hildegard, Baronesa von Freytag-Loringhoven (Winoujcie, 12 de julho de 1874 – Paris, 15 de dezembro de 1927).
A baronesa dadá Elsa
Elsa foi uma artista alemã que emigrou como tantos outros artistas para New York, assim como Duchamp, quando as coisas começaram a ficar feias na Europa.
Poetisa, artista plástica, sua vida refletia sua obra e vice-versa. Aliás, muitos anos antes de se falar em body art, ela já usava seu corpo como obra de arte. O que fez com que fosse presa várias vezes por vestir-se como homem ou não vestir-se.
Por essas e outras, Elsa von Freytag-Loringhoven é considerada a dadaísta até a medula. Sua obra “God” é vista como a primeira obra do Dadá americano. Trata-se de uma peça elaborada com um cano de um urinário retorcido e erguido como um objeto fálico que se dirige ao céu.
Na revista “The Little Review” se podia ler, Elsa é “a única pessoa viva no mundo que viste Dadá, ama Dadá e vive Dadá”.
Elsa e Duchamp
Parece ser e isso é apenas uma fofoca, que era apaixonada por Duchamp. E recentemente se redescobriram umas cartas do francês. Em uma delas destinada a sua irmã ele afirma:
“Uma de minhas amigas sob o pseudônimo R. Mutt, mandou (para a exposição que trato no vídeo) um urinol de porcelana como se fosse uma escultura. Não é para nada indecente. Não havia nenhuma razão para rejeitá-lo. Mas o jurado decidiu não expor semelhante peça”.
Ainda vou falar mais sobre essa polêmica e sobre a artista numa nova série do canal de YouTube. Mas se você quiser saber mais sobre a artista, pode adquirir sua biografia, clicando aqui.
E também por enquanto te deixo outro vídeo sobre o tema. Vídeo em inglês com legendas em espanhol.
Para saber mais, pode descarregar a tese de Gloria Durán Hernández-Mora em pdf:
Dandysmo y contragénero | La artista dandy de entreguerras: Baronesa Elsa von Freytag-Loringhoven, Djuna Barnes, Florine Stettheimer, Romaine Brooks.
Capítulo 2 – Pré-impressionismo: A confrontação da realidade, 1820 – 1870
No nosso Guia de leitura do livro “Isso é arte?”, chegou a hora de entender a quem “devem” diretamente os impressionistas. Em outras palavras, quais foram suas fontes diretas de inspiração.
– O pai do romantismo na pintura: Théodore Géricault (1791 – 1824)
– O homem que criou a “liberdade” – Delacroix
– Courbet, o artista que até hoje continua sendo censurado. Isso mesmo, tente postar a imagem da sua famosa obra “A Origem do Mundo” no Instagram ou no YouTube para ver o que acontece 😉 Vídeo restringido e lista negra no Instagram.
Isso não te lembra aquela velha canção:
“Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais”
Manet, impressionista? Mais ou menos
– “Bebedor de absinto” (1858-1859): Gliptoteca Ny Carlsberg | Copenhague
– “O almoço na relva” (1865–1866): Museu D´Orsay | Paris
Quando Gompertz trata do “Almoço na relva” assinala outra obras e artistas:
– Gravura de Marcantonio Raimondi (1480 – 1534) baseada em um obra de Rafael Sanzio (1483 – 1520)
– “O juízo de Páris” (1632-1635) de Peter Paul Rubens: National Gallery | Londres.
– “Concerto campestre” (1509) e “A Tempestade” (1506 – 1508), de Giorgione | Museu do Louvre (Paris) | Accademia (Veneza)
– “Olympia” (1863) de Manet (1832 – 1883)
Tecnologia e Impressionismo
Will Gompertz acertadamente também nos lembra dos avances tecnológicos que viveram essa geração, entre eles:
– a criação dos tubos de tinta;
– a fotografia;
– os trens e uma nova velocidade em incremento;
– E por que não, o escritor (para ele) mais importante entre os artistas que vão gerar a primeira grande revolução que vai levar a arte moderna. Quem? Charles Baudelaire com seu ensaio “O pintor da vida moderna”.
Clique aqui e saiba mais sobre o livro de Baudelaire. Também pode se interessar, pelos escritos de arte de Baudelaire, clique aqui.
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Capítulo 3 – Impressionismo: Pintores da vida moderna, 1870-90
Prá quem chegou por aqui há pouco tempo, tenho um programa inteirinho dedicado ao movimento impressionista. São 13 vídeos onde analiso desde os antecedentes até em detalhe cada um dos principais protagonistas.
E quais são as obras que ele cita nesse capítulo?
– “Impressão. Sol Nascente” (1872) de Monet | Museu Marmottan | Paris
– “Uma Olympia moderna” (1873-1874) de Cézanne | Museo d’Orsay | Paris
“A geada” (1873) de Pissarro | Museu D´Orsay | Paris
– “La Grenouillère (1869), tanto a de Monet como a de Renoir | MET (New York) e Nationalmuseum | Estocolmo
– “Chuva, vapor e velocidade” (1844) de Turner | National Gallery | Londres
– “O Tames a seu paso por Westminster” (1871) de Monet | National Gallery | Londres
– “A Grande Onda” (1830/2) de Hokusai | Como é uma gravura, há algumas cópias dispersas pelo mundo.
– “Estação 53 de Otsu” (1848/9) de Hiroshige | Como é uma gravura, há algumas cópias dispersas pelo mundo.
– “A classe de dança” (1874) de Degas | Museu d´Orsay | Paris
Veja as fotografias baseadas nas obras de bailarinas de Degas: https://www.turomaquia.com/bailarina-reproduz-obras-de-degas/.
– “A carruagem nas corridas” (1869) de Degas | Museum of Fine Arts | Boston
Capítulo 4 – Pós-impressionismo: Ramificação, 1880 – 1906
Gompertz começa esse capítulo nos contando da onde surge o nome: pós-impressionismo.
É fascinante que seja a necessidade de Roger Fry em criar um nome para uma exposição, que desemboque nesse termo utilizado até hoje, para identificar um grupo de artistas que desenvolveram projetos singulares a partir do movimento impressionista.
The Grafton Galleries – a galeria que viu nascer o pós-impressionismo
Essa exposição se realizou em 1910 nas Grafton Galleries em Londres. O mesmo local que recebeu a primeira exposição dos impressionistas na cidade em 1905. Exposição comissionada pelo marchand que já estudamos nos capítulos anteriores: Paul Durand-Ruel.
Na realidade, Roger Fry realizou duas exposições pós-impressionistas. Na primeira em 1910, apresentou obras de Manet, como a figura central do impressionismo e os pós-impressionistas: Van Gogh, Gauguin e Cézanne. Além do fauvista, Matisse e do cubista, Picasso.
A segunda aconteceu em 1912 com um enfoque um pouco diferente, mas ambas foram um fracasso. O pessoal ia na galeria pra se matar de rir do que estava exposto. Os críticos dos jornais gritavam que estavam querendo matar a arte européia.
Mas a exposição de 1910 chamou atenção de um grupo muito particular de Londres, que chamou Roger Fry para unir-se a eles, o Grupo de Bloomsburry.
1. Grupo de Bloomsbury e a exposição.2. Artigo (em inglês) sobre a exposição de Roger Fry: inclui as obras expostas.3. Sobre a exposição e o grupo Bloomsburry.4. Sobre a artista Duncan Grant.
Vincent Van Gogh (1853 – 1890)
O primeiro artista pós-impressionista apresentado por Gompertz é Van Gogh. Entenda melhor a cor nesse artista no vídeo do Top100Arte.
Van Gogh – obras citadas
“Os comedores de batatas” (1885) | Museu Van Gogh | Holanda
Van Gogh manteve com seu irmão uma contínua correspondência, o que nos permite conhecer mais a fundo sua obra.
Por exemplo, em uma das cartas ele fala sobre essa, que é considerada sua primeira obra-prima:
“Apliquei-me conscientemente em dar a ideia de que estas pessoas que, sob o candeeiro, comem as suas batatas com as mãos, que levam ao prato, também lavraram a terra, e o meu quadro exalta portanto o trabalho manual e o alimento que eles próprios ganharam tão honestamente”.
“A Casa Amarela” (1888)| Museu Van Gogh | Holanda
“Natureza morta com prato de cebolas” (1889) | Kröller-Müller Museum | Holanda
“O semeador” (1888) | Kröller-Müller Museum | Holanda
“O Café Noturno” (1888) | Galeria de Arte da Universidade Yale | Estados Unidos & “Os Girassóis” (1888) | Neue Pinakothek Munich |Alemanha
“Noite estrelada sobre o Rhône” (1888) | Museu d´Orsay | França
A noite foi uma tema recorrente para o artista. E para essa tela em particular, ele realizou vários estudos e descreveu seu processo ao pintá-la em uma de suas cartas:
“… finalmente as estrelas à noite, na verdade eu as pintei à noite, com uma lâmpada de gás. O céu é azul esverdeado, a água é azul-rei, as áreas de terra são de cor clara. O povoado é azul e violeta. A luz das lâmpadas é amarela e seus reflexos vão de um ouro avermelhado a um verde como bronze. Já a Ursa Maior tem um brilho verde e rosa que, em comparação com o amarelo forte das lâmpadas, é pálido e discreto. Duas figuras coloridas de um casal de namorados em primeiro plano”.
“O Quarto em Arles ” (1888) | The Art Institute of Chicago | Estados Unidos
Há outra versão no Museu d´Orsay (França). Para saber mais, assista o próximo vídeo 😉
Van Gogh e o japonismo
Gompertz deixa bem clara a influência das gravuras japonesas nessa segunda geração de artistas.
O que também é fácil constatar nas cartas de Van Gogh. Em 1888 ele escreve a Theo:
“Invejo nos japoneses a extrema limpidez que tudo tem em seu trabalho. Ele nunca é entediante, e nunca parece feito às pressas. Seu trabalho é tão simples quanto respirar, e eles fazem uma figura em algumas pinceladas seguras tão facilmente como se abotoa um paletó.”
Van Gogh e o impasto
Ele aplicava grandes quantidades de tinta na tela com ajuda de uma espátula ou com o dedo. O que nos lembra Gompertz que Velázquez e Rembrandt também já haviam feito. É claro que os tons do barroco eram outros e que o impasto com as cores claras e vibrantes de Van Gogh tinha ainda mais dramatismo.
“Ele não queria que a tinta simplesmente colorisse parte da pintura, mas que fizesse parte dela” (p. 82).
Van Gogh e os que vieram depois: Edvard Munch e Francis Bacon
Além desses artistas, Gompertz também compara El Greco e Van Gogh. Apontando quais seriam suas semelhanças e a grande diferença que leva Van Gogh a ser uma das grandes vigas do que seria dali adiante a arte moderna.
Edvard Munch (1863 – 1944) tal qual Van Gogh seria um artista pré-expressionista. Três anos após o falecimento do artista holandês, o norueguês pintou sua pintora mais famosa – “O Grito” (1893).
Francis Bacon também foi expressionista e um apaixonado por Van Gogh. E no livro, o autor nos fala de uma obra que eu já analisei no Top100Arte.
Will Gompertz ainda cita “Homenagem a Van Gogh” (1985). Essa tela pintada por Francis Bacon, esteve envolvida numa polêmica: https://www.standard.co.uk/news/van-gogh-tribute-must-be-returned-to-bacon-s-estate-6461979.html
Também é interessante ver os estudos realizados entre 1956 e 1957 para um retrato de Van Gogh. Ele realizou 6 estudos e aqui trago 3 deles. Talvez ele tenha sido inspirado por um filme que estreiou em 1956, onde Kirk Douglas encarnava Van Gogh – “Lust for Life”. E olha nas fotos, quem representou a Gauguin 😉
O estudo para retrato de Van Gogh I, mede 1,52 x 1,17 metros. Pertence a University of East Anglia (Reino Unido).
O estudo para retrato de Van Gogh III, de 1957, que mede 1,98 x 1,37 metros e pertence ao Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Smithsonian Institution, Washington, D.C. (Estados Unidos).
O estudo para retrato de Van Gogh III, de 1957, pertencente a Tate Modern (Reino Unido).
Para saber mais sobre Van Gogh
1. Catálogo exposição de Francis Bacon no MOMA (1989) fala sobre os estudos do retrato de Van Gogh.2. Site com diversas obras de Francis Bacon.
Gauguin
Van Gogh e Gauguin se conheceram em Paris, conviveram por 6 semanas em Arles. Sabe aquela amizade que te faz ser melhor? Pois foi assim, em Arles se propunham a ir além das fronteiras do Impressionismo.
Sabemos que o final dessa estância em Arles foi trágica, mas nenhum dos dois saiu indiferente dessa experiência!
Gauguin e as cores
Gompertz afirma: “Gauguin carregava nas cores a serviço da narração de histórias” (p. 88).
Para ilustrar essa afirmação ele traz a obra “A visão depois do sermão”, também conhecida como “A luta de Jacó com o anjo”. Um óleo sobre tela de 1888, que atualmente se encontra na National Gallery of Scotland (Reino Unido).
“A visão depois do sermão” e a Carta a Van Gogh
Esse quadro ele fez antes de encontrar com Van Gogh em Arles. Mas ele escreveu ao amigo no dia 26 de setembro de 1888 falando sobre ele:
“Acabo de pintar um quadro religioso, muito mal feito, mas pintá-lo me resultou interessante e eu gosto dele. Queria presenteá-lo à Igreja de Pont-Aven. Naturalmente, não aceitaram o quadro.
Um grupo de bretãs rezando; trajes em preto muito intenso. As toucas brancas e amarelas, muito brilhantes. As duas toucas da direita são como dois capacetes monstruosos. Uma macieira atravessa a tela, roxa escura. A folhagem feita de massas, como nuvens verde-esmeralda, com os interstícios verde amarelado pela luz do sol. O terreno (vermelho puro). Na igreja, se escurece e se torna um marrom avermelhado.
O anjo está vestido com um violento azul ultramarino e Jacó de verde-garrafa. As asas do anjo são puro amarelo cromo n ° 1. O cabelo do anjo, cromo n. 2 e a pele dos pés, laranja. Acho que consegui dar às figuras uma grande simplicidade rústica e supersticiosa. O conjunto é muito austero. A vaca debaixo da árvore é muito pequena em comparação com a realidade e está pulando.
Para mim, nesta foto, a paisagem e a luta existem apenas na imaginação das pessoas que estão orando após o sermão, então existe esse contraste entre as pessoas reais e a luta, em sua paisagem irreal e desproporcional.”
Ele pintou essa obra em Pont Aven. Suas obras se consideraram simbolistas, porque a cor era utilizada para expressar, assim como alguns elementos inseridos em seus quadros.
Gauguin e a colonia de artistas na Bretanha
Os artistas já haviam anteriormente formado colônias para pintar ou se inspirar entre eles. Já vimos na série “Viajando no Impressionismo”, a Escola de Barbizon.
Na Bretanha, no norte da França vários artistas se reuniram em Pont-Aven, no que se conheceu como Escola de Pont-Aven.
Gauguin passou várias estâncias em Pont-Aven, a primeira vez no verão de 1886. Aliás, os artistas costumavam ir para lá no verão.
Por essas bandas se encontraram nosso Gauguin e outro jovem pintor, Emile Bernard, que lhe vai inspirar a pintar ao estilo conhecido como cloisonismo. Nele o artista realiza contornos bem marcados e assim separa as zonas de cor pura e intensa. Esse estilo, por sua vez, inspira-se nos vitrais da Idade Média e também nas gravuras japonesas. Nosso já conhecido “japonismo”.
O Cristo Amarelo | 1889 | Albright-Knox Museum (Estados Unidos) & Auto-retrato com Cristo Amarelo | 1890/1891 | Museu D´Orsay (França)
Gauguin no Taiti
Bastante polêmico esse período no Taiti, que vamos ver no video do Youtube. Nele Gauguin produziu pinturas com grandes massas de cor.
Por que está brava? (No te Aha Oe Riri) | 1896 | Art Institute of Chicago (Estados Unidos)
Para saber mais sobre sua vida no Taiti, compre e assista ao filme: Gauguin, viagem ao Taiti (R$ 19,90).
Gauguin e Mario Vargas Llosa
Você sabia que Gauguin inspirou Mario Vargas Llosa a escrever: El Paraíso en la otra esquina.
Tanto que ele seguiu os passos do artista, vale a pena ler seus artigos sobre essa jornada no jornal “El País”: https://elpais.com/elpais/2012/10/31/opinion/1351703062_549131.html | https://elpais.com/diario/2002/01/20/opinion/1011481207_850215.html.
Georges Seurat – Ciência e Arte
Ele pegou certas características do impressionismo, mas ao mesmo tempo, ele queria dar ordem, estruturar suas composições.
Tanto que Gompertz afirma que enquanto Monet buscava captar o instante, um determinado momento, Seurat necessitava captar a intemporalidade.
Para isso vai encabeçar um movimento que se conhecerá como “pontilhismo”. Ele estudará a cor e a partir de seus estudos começará a aplicar pontos de pigmento puro, que serão misturados pelos nossos olhos. Ele levará a técnica impressionista a outro nível.
Banhistas de Asnières | 1884 | National Gallery of London (Reino Unido)
Essa foi sua primeira grande obra. Ainda não é pontilhista, mas ele já havia começado a estudar a forma em que as cores brilham, descobrindo por exemplo que o tamanho das telas poderia ajudar a que elas respirassem, que tivessem mais espaço e que assim a sensação de brilho fosse maior.
A National Gallery também abriga alguns dos estudos que ele realizou para essa obra. Ele costumava realizar seus estudos ao ar livre, de frente para o motivo, mas desenvolvia suas telas finais no estúdio, diferente daqueles impressionistas mais puros.
Para entrar no mundo de Seurat – um pouco de Teoria da Cor
Seurat adentrou na teoria da cor, começou por 3 clássicos, mas estudou muitos outros.
Clássicos da Teoria da Cor
– “Óptica” (1704) de Isaac Newton;
– “Teoria das Cores” (1810) de Goethe;
– “Sobre a lei do contraste simultâneo das cores” (1839) de Chevreul.
Para você entender, alguns termos empregados quando falamos de cor:
– Cores primárias: não podem ser decompostas em outras cores. Portanto não são obtidas de misturas e por sua vez quando combinadas, geram outras cores.
Importante: podem ser diferentes, dependendo do sistema aplicado: RGB, CMY, RYB. Tradicionalmente eram o vermelho, amarelo e azul.
– Cor secundária: surge da mistura de duas cores primárias.
– Cor terciária: surge da mistura ou combinação de uma cor primária e outra secundária.
– Cores complementares: estão frente a frente no círculo cromático, por exemplo, o azul e o laranja. São cores contrastantes.
– Cores análogas: estão uma seguida da outra no círculo cromático, geram o famoso tom sobre tom.
– Tríade: combinação de 3 cores que são equidistantes entre si e que conformam um triângulo no circulo cromático. Outra forma interessante de combinar as cores.
“Tarde de Domingo na Ilha Grande Jatte” | 1884/1886 | Art Institute of Chicago (Estados Unidos)
O museu que abriga essa obra-prima de Seurat realizou em 2004 uma grande exposição dedicada a todo o processo do artista e o site dessa mostra pode ser visitado: https://archive.artic.edu/seurat/seurat_overview.html. Clicando nos enlaces desse site, poderá ver todos os estudos preparatórios realizados por Seurat.
A National Gallery of London também possui alguns estudos realizados para essa obra.
Você lembra que …
essa tela apareceu no filme “Curtindo a vida adoidado”?!
Capítulo 5 – Cézanne, o pai de todos (1839 – 1906)
“Foi o primeiro artista que pintou usando ambos olhos” (David Hockney)
O David Hockney é um artista britânico incrível que já apareceu no Top100Arte, para ver o vídeo, clique aqui.
Ele escreveu com o crítico de arte, Martin Gayford, um livro diferente de “História da Arte”, que é fascinante e o preço é bem interessante comprando a edição em inglês, clique aqui para ver. E procurando por ele para recomendar para você, descobri que há uma versão infantil, clique aqui para ver em inglês e clique aqui para a edição em espanhol.
Outros livros – David Hockney
O método de Cézanne e nossa visão binocular
O que quis dizer David Hockney com ver com os dois olhos? Nós temos uma visão binocular, cada um de nossos olhos recolhe uma informação. Cada olho vê um pouco diferente do outro. E o cérebro fusiona as informações e constrói uma imagem única.
Para Cézanne, o impressionismo recolhia uma imagem única. E assim perdia parte da informação de cada olho e ele queria usar ambas informações.
Então o que ele fez foi começar a pintar um motivo visto de ângulos diferentes. De certa forma, retornando à ideia dos egípcios de representar cada coisa da melhor forma que essa seria vista: de frente, de perfil, de cima, como fosse. Mas Cézanne, além disso, tinha todo um conhecimento artístico desenvolvido até aquele momento e que ele podia incorporar a seu projeto.
Ele manipulou as regras da perspectiva e do escorço para te mostrar como na verdade veem seus olhos antes que seu cérebro fusione as imagens.
Além disso, quando estamos diante de uma imagem complexa, a tendência do nosso olho é buscar as formas e não os detalhes. Portanto, ele começa a simplificar as formas, a geometrizar as formas.
O método de Cézanne em vídeo
Quer entender melhor? Coloquei o vídeo para iniciar no momento em que explico com imagens o seu método.
“Natureza morta com maçãs e pêssegos” – Cézanne
Esse quadro se encontra na National Gallery of Art de Washington D.C.. É de 1905.
E olha as genialidades:
– pintou a jarra à esquerda desde 2 pontos de vista diferentes, de perfil e desde cima;
– gira 20 graus a parte de cima da mesa para que possamos ver melhor as frutas, mas aos aos pés da mesa não aplica esse giro;
– e as frutas, principalmente os pêssegos, também se pintam desde 2 ângulos distintos.
Assim é na real como vemos, antes que nosso cérebro fusione as duas imagens enviadas pelos olhos!
Cézanne, Gestalt e Bauhaus
O que Cézanne estava descobrindo ao olhar e estudar detenidamente o objeto pintado, depois vai aparecer de forma mais científica, nos estudos da Gestalt (ou psicologia da forma) e na Bauhaus.
Para saber mais, deixo um artigo científico em espanhol sobre as interrelações entre a Gestalt e a Bauhaus. Para descarregar, clique aqui.
E também em espanhol, um TCC: La forma del diseño: influencias de la Gestalt, a través de la Bauhaus, en la obra de Max Bill. Para descarregar, clique aqui.
“Montagne Sainte-Victoire with Large Pine” – Cézanne
Essa obra foi realizada aproximadamente em 1887. Atualmente se encontra na Courtauld Gallery, de Londres.
Vale a pena ver o vídeo do museu sobre a obra. Nele o Professor John House analisa essa tela. Coloque as legendas, mesmo em inglês ajudam bastante a compreender o que é dito!
a técnica passage
Gompertz fala que nessa pintura da Montanha de Sainte-Victoire, Cézanne utiliza a técnica conhecida como passage.
Em que consiste essa técnica?
Também chamada de transição de cor. Nada mais é que passar de uma cor para outra de forma gradual.
Veja o ramo da árvore mais baixo e horizontal. Ele aplica o verde e vai degradando até que toca a montanha e se converte em cinza azulado.
Cézanne e a Montanha Sainte-Victoire
Parece ser que essa é a única tela vertical dentro dessa série da Montanha Sainte-Victoire | 1904 -1906 | Museu de Arte de Princeton
1904 – 1906 | Museu de Arte Bridgestone
1900 | Galeria Nacional de Escócia
1902 – 1904 | Museu de Arte da Filadélfia