Perdão e reflexão (A Saga do Caminho 4)

Ânimo refeito! Antonio meio sonolento, os múltiplos roncos lhe haviam despertado pela noite. Por isso outra dica: levar tampões de ouvido.

A subida não foi difícil, e chegamos felizes da vida ao Alto do Perdão, que abrigava antigamente uma pequena igreja e um refúgio de peregrinos. Tiramos foto no monumento de ferro construído em 1996, fizemos um filme, e comemos para carregar as pilhas para o verdadeiro desafio do dia: a descida!!!

A descida é dura, principalmente para quem está meio prejudicado (hahahahaha). Tive que descer lateralmente. Mas sabe que sentia algo incrível porque além do mais meu ponto fraco são as descidas, assim eu estava no Caminho de Santiago e em uma super descida, e praticamente vencendo este dia apenas com um joelho!

Dicas peregrinis: Descendo lateralmente, em zigue-zague ou de costas, os joelhos sentem menos! Sim, passei a descer de costas, mas isto passará nos próximos capítulos!!! Isto não é telenovela, mas é tão melodramático quanto!

Resolvemos que depois de tanto esforço merecíamos almoçar e não apenas comer uns sandwiches. Paramos em Uterga, o albergue tem menú e carta. Pedimos saladas e passamos uma hora e meia conversando com Antonella, Paola e Giuseppe (italianas e holandês). No caminho você conhece gente meio louca, mas outros como estes nossos novos amigos, que são bárbaros.

Ao final do almoço, tirei os malditos tênis que levava, e o que mais temia aconteceu, tinhas duas super bolhas nos dedões. Coloquei uma coisa chamada compeed (mais detalles em breve …), e nos despedimos de nossos amigos. Neste dia nos desvíamos do Caminho Francês, para conhecer a Igreja de Santa María de Eunate.

Esta igreja é um verdadeiro mistério, uma das poucas igrejas católicas octogonais do mundo, e que se encontra no meio do nada. Por que em uma época que era tão difícil erguer as igrejas, esta foi construída longe dos possíveis fiéis de uma cidade? Vale a pena andar uns quilômetros a mais neste dia para visitar esta construção do século XII.

Sentamos dentro da igreja, no anel de colunas exterior, e ficamos um bom tempo desfrutando do silêncio, da paz e das lendas que envolvem esta igreja levantada pelos templários.

Para chegar até ela, o mais duro foi o sol na cabeça, não havia uma nuvem sequer, nenhuma árvore, enfim, nada de nada! Assim levar muita água! Para seguir a partir de Eunate, existem duas posibilidades: ir até Óbanos pelo Caminho Francês, ou pegar o Caminho Aragonês e chegar diretamente em Puente de La Reina.

Como assim, Caminho Aragonês? Existem diferentes caminhos para chegar a Santiago, o Caminho Francês é apenas um deles, acontece que é o mais conhecido e com uma maior infra-estrutura.

Puente de La Reina á uma das mais importantes paradas do caminho. Aqui se encontram diversos roteiros, por exemplo, o aragonês e o francês. A cidade surgiu pelas peregrinações, e aqui se respira o caminho, e isso é bastante importante. Porque é bastante diferente chegar em uma cidade que vive o caminho e em outra que o suporta. O peregrino é carente, necessita do sorriso, do incentivo, do bem receber, ou será que na possessão de peregrino voltamos a ser mais humanos? Só sei dizer que na condição de peregrina me sentia melhor pessoa, e que tinha tempo de cumprimentar as pessoas e de verdade indagá-las como estavam, e não apenas por educação, e sim porque realmente me importava meu próximo. Muitas vezes neste dura andadura cotidiana, a falta de tempo é desculpa frequente para esconder a coisa mais bonita da humanidade: a solidariedade real!Como dizia Buscaglia: “Bastava que cada ser humano tivesse ao menos alguém na vida que lhe quisesse de qualquer maneira, mesmo que desse com a cara no chão, que errasse, que fora simplesmente humano, para que a raça humana já não padecesse da loucura”.

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Imagens: turomaquia_2006