Guias de Viagem e Arte

 
 
jan 03 2007

Gente de todas as cores e sabores … (A Saga do Caminho 14)

Hontanas – Boadilla del Camino:31,72 Km
O dia estava tão bonito e depois de uma leve caminhada deparamos com uma construção do século XV em ruínas. Apesar do estado que se encontra o Convento medieval de San Antón é impossível não se detener nem que seja por alguns minutos.
Caminho de Santiago

Este convento pertencia à ordem dos antonianos, que nasceu no século XI em França e que se estendeu por toda Europa chegando a ter cerca de 400 refúgios. Seu brutal crescimento se deu principalmente por conhecerem a cura da doença do fogo de San Antón. Esta doença era o ergotismo, uma espécie de gangrena generalizada das extremidades, causada pela intoxicação com um fungo parasita que vive nos ovários das flores de centeio. As pessoas comiam qualquer coisa de centeio infectada e adoeciam. Esta doença matou muita gente, quase como a peste negra.

O Convento de San Antón era um centro de peregrinação dentro do Caminho de Santiago, procurado por aqueles que tinham a enfermidade e buscavam a cura. Os frades vestiam túnicas negras com o simbolo tau, que é a letra t do alfabeto grego.Desde 2.002 o convento voltou a exercer sua antiga função de acolher os peregrinos. Nas ruínas existe um refúgio bem particular. Nós entramos para ver como era, o clima era bem diferente dos demais refúgios, eram poucas pessoas (talvez porque faltam as comodidades que os urbanautas estão acostumados) e todas conversavam entre si e cantavam enquanto uma senhora tocava ao violão. Eu achei super zen, mas infelizmente eu ainda não estava preparada para viagens tão profundas e solitárias. Ainda necessitava do ruído urbano, de comida quentinha e da histeria das pessoas, quem sabe em um outro momento …

Mais um par de quilômetros e chegamos a Castrojeriz, onde faríamos nosso lanche. Todos no caminho falavam muito do lindo patrimônio arquitetônico-religioso de Castrojeriz. E não se pode negar que a cidade era muito charmosa e bem cuidada, mas já o mesmo não se podia falar dos serviços gastronômicos. Aqui fomos mal tratados em um pequeno armazém e depois em um bar, aliás o bar se chamava Lagar, o melhor que se pode fazer é “se largar deste lugar” (sei que a rima é ridícula, mas é que ainda quando me lembro deste episódio fico meio atarantada). Mas vejam só, isto é bem particular, o caminho se faz ao caminhar como já dizia o poeta Antonio Machado, assim não é porque eu passei mal que você não irá desfrutar deste povoado!
Caminho de Santiago

Depois de Castrojeriz uma subidinha, a esta altura do campeonato, jogador já não se asusta com qualquer adversário. Assim foi fácil, e desta montanhinha se tinha uma vista espetacular de Castrojeriz. Mais uns quilômetros e alcançamos uma ponte do século IX que separa a província de Burgos da província de Palencia.
Caminho de Santiago
Caminho de Santiago
Caminho de Santiago

Palencia tem alguns dos melhores monumentos românicos espanhóis, e bem conservados. Vale a pena ir mais devagar neste trecho de 3 ou 4 dias e parar para visitar as igrejas e mosteiros românicos.
Caminho de Santiago

Próxima parada: Boadilla del Camino, para mais uma grata surpresa – o albergue “En el Camino”. Um albergue privado com gente super hospitaleira, e com muito conforto. Quando se fala de conforto no caminho, isto quer dizer, água quente, cama limpa, menos de 20 pessoas no mesmo quarto, coisas assim. Este tinha tudo isso, e também uma pequena piscina e um jardim acolhedor para relaxar. Mas o melhor eram as pessoas que gestionavam este lugar: um espanhol e um argentino. Eduardo (el español) conhecia o Brasil, e até Curitiba, e curou minhas últimas bolhas ao som de Cássia Eller. Ele era um “enamorado” do nosso país. O melhor da vida, não só do caminho, que existem pessoas de todos os tipos, umas que quase estragam teu dia e outras como estes hospitaleiros que tornam tudo mais agradável, e não digo isso somente porque ele amava o Brasil. Eles tratavam todos os peregrinos com tanto carinho, que dava vontade de ficar mais tempo por lá. Mas o caminho é assim, chegar, conhecer, admirar e partir para outras paragens, a buscar outras surpresas e emoções …

Quer ficar sabendo quando saem os próximos posts?
Então curta nossa página no Facebook, clicando aqui.
Siga o nosso Twitter @turomaquia.
Viaje com a gente no Google+ – google.com/+TuromaquiaViagens
Inscreva-se no nosso canal no YouTube, e seja o primeiro a ver nossos videos Turomaquia.
Veja nossas fotos no Instagram – Turomaquia.

Posts relacionados:
Tudo que é bom … (de Saint-Jean-Pied-De-Port a Roncesvalles)
Dificuldades … (de Roncesvalles a Zubiri)
Eu x Eu (de Zubiri a Cizur Menor)
Perdão e Reflexão (de Cizur Menor a Puente de la Reina)
Eu necessito … (de Puente de la Reina a Estella)
Da fonte de vinho a pocilga (de Estella a Los Arcos)
A chegada a La Rioja (de Los Arcos a Logroño)
Um lugar abençoado por Deus … (de Logroño a Ventosa)
O importante não é chegar … é ir! (de Ventosa a Santo Domingo de la Calzada)
O primeiro grande desafio (de Santo Domingo de la Calzada a Montes de Oca)
Divagações em Atapuerca (de Montes de Oca a Agés)
Os grandes tesouros (de Agés a Burgos)
Feliz na Aldeia Global! (de Burgos a Hontanas)

Imagens: turomaquia_2006