Guias de Viagem e Arte

 
 
fev 17 2010

Fado em Lisboa: Mesa de Frades – altamente recomendável

Aquele dia tinha sido longo. Em meio de chuva, sol e outra vez chuva conhecemos a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerônimos e desfrutamos dos famosos pastéis de nata. Já de volta ao Chiado a tentação nos chamou, ninguém é de ferro, em plena época de promoções portuguesas, compramos!
fado em Lisboa
Entrada “Mesa de Frades”
Dos Armazéns do Chiado subimos diretamente ao Alfama. Nos esperava nossa reserva na “Mesa de Frades”. Conseguimos uma mesa na sala da entrada, onde mais tarde os artistas se colocariam para o fado. Havia uma segunda sala pequena, da qual se escutava bem, mas não se via nada!

O restaurante era pequeno, as mesas de madeira, e nas paredes murales de azulejos. O lugar que incialmente era uma capela e teria sido lugar de encontro de um rei e sua amante, agora era o ambiente perfeito para se emocionar com um fado.

fado em Lisboa

A reserva exigia que jantássemos, o que na verdade estávamos desejando. Apenas havíamos feito dois lanches na Pastelaria de Belém. Pedimos uma espécie de bolinhos de bacalhau achatados (pataniscas) com arroz (com tomate) e arroz de bacalhau. De entrada: pão, patê, queijo e azeitonas. Para beber: vinho e chops, ou melhor, imperial.
fado em Lisboa
Patanisca com arroz de tomate
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Arroz de bacalhau
A comida estava perfeita, como caseira, cheia de sabor. Os dois pratos serviam muito bem a duas pessoas. Eu necessitei da ajuda do Tom para terminar o arroz de bacalhau. Pensava que era uma espécie de risoto com trocinhos de bacalhau. Não podia estar mais equivocada,  duas postas enormes de bacalhau estavam debaixo da camada superficial de arroz.

Da nossa mesa era possível espiar o trabalho das cozinheiras. O pessoal que atendia era amável, um português e um jovem brasileiro. Era quase meia-noite quando alguns rapazes e raparigas começam a entrar no restaurante que já transbordava de gente. Colocam-se no balcão ou de pé atrás das mesas. Não posso mentir que aquilo me irritou um pouco, afinal agora que começava o espetáculo, iriam tapar minha visão. Mas aquela é a tradição, o que só não acontece no Clube do Fado. Nos demais, entre as 22:30 e a meia-noite as portas se abrem para aqueles que não se incomodam em assistir o fado no balcão ou de pé.

Minha irritação começou a desvanecer quando os primeiros acordes dos violões encheram o pequeno recinto. Primeiro, as luzes se apagaram, estávamos à luz de velas. Depois o providencial pedido de silêncio. Os artistas se colocaram junto à porta de entrada. Os violões soaram sozinhos na primeira música, na segunda uma voz masculina. Tocaram meia hora, e um descanso. Mas foi a cantora que veio à continuação que aliviou minh´alma daquela ligeira pertubação gerada por certa sensação de claustrofobia. Era magistral, e comecei sem querer ou sei lá querendo mesmo, a chorar. Ela alternava músicas alegres com melodias mais desesperadas e letras mais melancólicas. Cantou por uns quarenta minutos, acompanhada pelos violões que começaram o espetáculo.

Entre aqueles que chegaram depois das onze horas, muitos portugueses. Algumas canções eram acompanhadas pelo coro dos lisboetas. Depois daquela que para mim foi a diva, vieram outras cantoras, mas aquela sem dúvida foi a mais chocante, e já havia valido a noite. Estivemos ali até às 2 e pico da manhã. Descemos às ruas do Alfama tão felizes, que decidimos encarar o percurso à pé. Caminhamos até nosso hotel ao lado do Parque Eduardo VII, certos que mais do que cumprir um ritual de viagem à Lisboa, havíamos desfrutado de momentos que fazem com que os versos de Pessoa (“tudo vale a pena …”) tomem ainda mais sentido! Por isso pedimos: não saiam da capital sem subir ao Alfama e escutar a música portuguesa com certeza!

Informação prática
Mesa de Frades
história:
fado em Lisboa
endereço: Rua  dos remédios, 139a
telefone: (+351) 917029436
e-mail: mesadefrades@gmail.com
cardápio (ementa):
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nossa conta: 46,50€
olha quem já passou por lá também:
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Almódovar e amigos

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Nosso Ivan Lins com a cantora de fado, Mariza
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fotos: turomaquia_2009 y Mesa de Frades