Fernando Pessoa e um fim de tarde em Las Canteras
Entre o fim de ano e o que está por vir. Entre o doutorado que agoniza e não quer por fim simplesmente “morrer”. Nada melhor me vem a cabeça do que uns versos de Fernando Pessoa. Versos assinados por um outro Fernando, o Alvaro. Escolho alguns e lhes misturo a um fim de tarde. Neste momento, só posso ser isso, uma mistura sem muito nexo…
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
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