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jun 09 2016

Edward Hopper – o pintor que materializou a solidão

Hopper – um autorretrato

Edward Hopper nasceu nos Estados Unidos em 1882 e faleceu em 1967.

Uma curiosidade: com quase 46 anos só tinha vendido 1 quadro!

Este autorretrato pertence ao Whitney Museum of American Art, data de 1925/1930. Boa parte do caráter do personagem é dado pela sombra projetada pelo chapéu. Os olhos parecem olhar através do espectador, na verdade ao vivo e a cores parecem que te invadem. Intrigante fundo, com parte de uma porta e as linhas em diagonal. Aliás, Hopper amava as linhas diagonais, fique atento que perceberá está paixão 😉
hopper.self-portrait

Hopper, seu professor e a Escola Ashcan

Um dos professores de Hopper foi Robert Henri. Sob a batuta do mestre se reuniu um grupo de pintores conhecido como Escola Ashcan. Apesar de ser um grupo meio díspar, uma tema lhe unia – cenas do cotidiano de uma cidade que já naquela época tinha um ritmo enlouquecido. Estamos falando dos primeiros 30/40 anos do século 20 e de New York.
Escola Aschan

Muitos críticos encaixam Hopper neste grupo, mas dá uma olhada nos quadros de alguns de seus artistas principais (William Glackens, George Luks, John French Sloan e Everett Shinn). Você acha que Edward Hopper realmente estava na vibe da Escola Ashcan? Com isso, não estou falando que uns são melhores que outros, nada disso!

william-glackens-umbrellas
george-luks-allen
McSorley's_Bar_1912_John_Sloan
everett_shinn_girl_on_stage

Hopper e as janelas

As janelas são constantes na obra de Hopper. Entreabertas podemos ver cenas pessoais. Somos como voyeurs.
Edward Hopper

Por outras, vislumbramos o mundão, assim como fazem seus personagens.
Edward Hopper

Há aquelas que formam parte do fundo, e na verdade quase parecem engolir o homem.
Edward Hopper

E outras que aumentam ainda mais a solidão que emana do quadro. Pois não mostram nada, como se dentro destas casas não houvesse vida, só uma angústia latente.
Edward Hopper

Estão perfeitamente delineadas nas paisagens urbanas, como se mostrassem que somos muitos, e cada um vendo e respirando o mundo desde e somente através dos próprios olhos. Nos pensamos especiais, mas tais quais as janelas de Hopper, somos mais iguais do que diferentes. E pensando bem, esta é um boa notícia 🙂
Edward Hopper

“Minha pintura, se me permitem dizer, é provavelmente o reflexo da minha vida, se é um reflexo da solidão? Não sei. Poderia ser um reflexo da condição humana” – Edward Hopper.

Hopper: ilustrador e gravador

A família de Hopper não tinha muito dinheiro, ele teve que estudar além de pintura, algo que lhe ajudasse a sobreviver em New York. Por anos foi ilustrador, e dos bons. A ilustração levou o artista a produzir muitas gravuras, na técnica do água forte. Cada gravura, gente! Esta parte da obra do Hopper é pouco conhecida 🙁
NightShadows-hooper-arte-exposicion-revista-achtung
Hopper aguafu¡erte
6 the locomotive 1923
5 Etching Night on the El Train 1918
5 House Tops etching 1921 Philadelphia MoA r
Perceberam que as janelas também aparecem nas gravuras?!

Os cadernos de Hopper

Sabemos muito sobre a obra de Hopper porque ele mantinha uns cadernos com os esboços preliminares, e outro onde fazia um desenho da obra acabada. E sua mulher, a Josephine, fazia uma descrição da tela, da técnica, e quem tinha comprado a obra e o preço.
Os cadernos de Hopper

Hopper inspirou a casa de Psicose – “House by the Railroad”

Esta talvez seja uma das mais famosas casas da História da Arte, já que saltou da tela para o cinema das mãos de Alfred Hitchcock, que após realizar algumas adaptações, fez dela a morada de um dos personagens mais atormentados do cine, Bates, o solitário de “Psicose”.
house-by-the-railroad
Veja como constrói a casa com linhas verticais e horizontais que lhe conferem solidez, e para contra-arrestar insere linhas curvas sobre janelas e portas, imagine a mesma casa sem estas linhas curvas, seria tão sólida que não seria tão real. Quase não existem diferenças tonais (de cor) entre a casa e o céu, mas em compensação muda totalmente a cor do chão e da linha de trem, mostrando que são dois âmbitos bem diferentes, o da linha de trem que permite a aproximação das pessoas, e o do âmbito da casa que mesmo assim vive solitária tal qual este céu, sem muitas alterações e/ou emoções.

Para aumentar ainda mais a dramaticidade da cena, conferir ainda mais sentimento para um objeto que não é orgânico, que não respira, mas parece sofrer, o que ele usa? Sombras, que chamamos de duras, porque são retas, diretas, porque parecem quase cortar a figura, e que também servem para esconder, e o que escondem? Bem, isso já faz parte da leitura de cada um, e vai depender de como você se sinta neste exato momento!

O poeta Edward Hirsch criou um poema baseado nesta tela de Hooper – Edward Hopper and the House by the Railroad.

Normalmente os temas de Hopper e seus personagens saíam de sua observação, mas neste caso ele inventou esta casa, possivelmente lembrando das casas que avistou em Nova Inglaterra, bem como em sua passagem por Paris. Assim mistura dois estilos, “descolocando” uma casa que em algum momento teria sido bonita, mas que inserida neste aqui e agora apresentado na tela parece estranha e até feia, aumentando o efeito dramático da pintura e ainda, conferindo mais personalidade à casa, no sentido que a tela acaba parecendo mais com um retrato do que com uma natureza morta ou paisagem.

Vai prá New York? Então você poderá ver este quadro no MOMA, e até 31 de outubro visitar o Roof Garden do MET para ver a escultura criada pela artista Cornelia Parker, inspirada em inspirado e inspirador, ou seja, na casa de Hopper e na de Bates.

Hopper

Photographed by Alex Fradkin, Photo courtesy Cornelia Parker

Hopper e seu último quadro – “Dois Comediantes”

Os críticos estão de acordo que o artista já sabia que “Dois comediantes” seria sua última obra. A interpretação mais aceita é que nele o artista representa a última saudação dele e de sua esposa Jo ao final de uma representação teatral, como sua despedida do mundo. Foi finalizada em 1965, e o artista com problemas de saúde faleceu em seu apartamento de New York em maio de 1967. Esta obra pertence a uma coleção privada. Sua esposa faleceu 10 meses depois.
Hopper

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